Você está fazendo uma caminhada, e de repente se dá conta que já esteve naquele lugar, naquela exata hora, e consegue prever tudo o que os outros que estão ao seu redor vão fazer - Déja vu -.
Tudo segue uma ordem exata, como se você já tivesse passado por aquela situação. Isso pode durar apenas alguns segundos, mas já é o suficiente para você concluir que teve um "déjà vu".
Déjà vu (que significa "já visto" em francês) é a expressão usada para descrever aquela sensação de que você já esteve em determinado lugar ou já fez a mesma coisa antes, ainda que o senso comum lhe garanta que isso não é possível.
Pesquisas indicam que cerca de dois terços das pessoas experimentam essa sensação pelo menos uma vez na vida, mas se sabe muito pouco sobre suas causas.
O psiquiatra Chris Moulin, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, é um dos poucos especialistas que se dedicam ao assunto. Para buscar respostas, garimpou em clínicas psiquiátricas atrás de gente com déjà vus ainda mais frequentes.
Moulin conheceu pacientes que vivem num déjà vu eterno, num mundo surreal, onde tudo parece já ter acontecido.
Um dos pacientes de Moulin, apresentado a ele em 2000, achava que já sabia tudo o que aparecia nos jornais ou na TV. "Ele ficou completamente traumatizado com essa sensação constante de que sua mente está brincando com ele", diz Moulin.
Mas esses pacientes não estavam adquirindo poderes místicos e prevendo o futuro.
Tomografias no cérebro deles mostram que sua massa cinzenta atrofiou no lobo temporal, justamente a parte que governa a formação de memórias. Moulin e outros pesquisadores, então, imaginam que a chave para os déjà vus normais esteja aí.
Se nos casos crônicos a falta de timing do lobo temporal é permanente, nos mais moderados ela só acontece de vez em quando. Às vezes uma única vez na vida.
Mas essa é só uma das explicações para os déja vus. Em 2004, psicólogos da Universidade Metodista de Dallas e da Universidade Duke, nos EUA, fizeram um experimento para recriar déjà vus em laboratório.
Eles defendem que o segredo do fenômeno estaria nos porões mais escuros do cérebro, onde ficam as memórias do que você não viu.
Para concluírem isso, colocaram seus alunos para ver fotos dos dois campi. A tarefa era encontrar pequenas cruzes que eles sobrepuseram às imagens. Eles esperavam que os alunos se concentrassem na busca pelas cruzes, sem prestar atenção nas imagens.
Uma semana depois, chamaram os alunos de volta e mostraram as mesmas imagens. Agora eles tinham de dizer quais daqueles lugares já tinham visitado. Bingo: alunos da Duke que nunca tinham ido à Metodista disseram já ter estado em cenários de lá, e vice-versa.
Conclusão: enquanto procuravam as cruzes, eles guardavam as imagens dos lugares desconhecidos no inconsciente sem se dar conta. Os estudantes não tinham mais de um segundo para ver cada imagem, mas foi o suficiente para que elas desencadeassem “mínis déjà vus”.
Por essa linha, ter um déjà vu significa acessar memórias nunca antes registradas pela consciência.
Já Akira O'Connor, psicólogo da Universidade de St Andrews, acredita que, na maioria dos casos, a sensação está ligada a uma espécie de "falha de ignição" momentânea nos neurônios no cérebro, que criaria conexões falsas.
"O déjà vu pode ser uma espécie de tique do cérebro. Da mesma forma que temos espasmos musculares ou contrações das pálpebras de vez em quando, pode ser que, às vezes, a parte do cérebro responsável pela memória e sensação de familiaridade tenha uma pequena convulsão", diz O'Connor.
Outra teoria, desenvolvida pela professora Anne Cleary, da Colorado State University, é que a sensação seria causada pela existência de algo genuinamente familiar no entorno de quem a experimenta - como o formato de uma estrutura ou a disposição dos móveis de uma sala.
E é claro que não poderíamos deixar de citar a melhor explicação para esse fenômeno, que foi dada no filme Matrix, quando em uma das cenas, Neo olha para um gato preto e sente que já o tinha visto antes, e diz: "Uau, Trinity. Tive um déjà vu..." E ela explica: "Um déjà vu é uma falha da Matrix, Neo. Acontece quando estão consertando alguma coisa..."
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